julho 25, 2012

Scan com Robert na Revista Vogue Brasil


Vampiro Maduro
David Cronenberg volta aos personagens estranhos num mundo de delírios em Cosmópolis e faz do protagonista de Crepúsculo um ator de verdade.
Com os filmes da Saga Crepúsculo, só as adolescentes apaixonadas podiam encarar Robert Pattinson como um ator de verdade. Depois do sucesso meteórico, faltava ao intérprete do vampiro Edward encarar um batismo de fogo. O teste chegou por boas mãos: o mestre dos filmes bizarros, David Cronenberg (de Crashe Gêmeos – Mórbida Semelhança). A notícia é boa: Pattinson se sai muito bem na pele de um dos personagens mais importantes da literatura americana recente, o bilionário Eric Packer, de Cosmópolis, adaptação do consagrado livro homônimo de Don DeLillo.
Com apenas 28 anos, Eric controla o mundo de dentro da sua limusine, que atravessa Manhattan num dia qualquer por um motivo banal – o jovem magnata quer cortar o cabelo. Em 24 horas, ele encontra os membros de seu staff (um jovem hacker, uma marchande, sua consultora-chefe) e personagens deslocados (como um grande cantor de rap que é seu maior ídolo e um confeiteiro terrorista). Em meio à jornada, uma estranha loura que ele nunca reconhece direito cruza o seu caminho, aparecendo e sumindo sem deixar rastrto: é ninguém menos que Elise, a jovem com quem ele casou há pouco tempo.
Em 2003 o livro de DeLillo caiu nas graças da crítica e dos leitores como um retrato psicodélico e compulsivo do início do século 21, em que o excesso de dinheiro de alguns poucos, afastados da realidade e mergulhados cada vez mais em telas virtuais, contrasta com a revolta de muitos – numa acurada profecia do que viriam a ser protestos como o Ocupe Wall Street. Mesmo com todo o dinheiro e conforto, Eric não se sente feliz e busca momentos de realidade num mundo cada vez mais fake.
Longe da fase mais bizarra de sua obra, de filmes como Videogame (1983) e A Mosca (1986), Cronenberg faz uma adaptação fiel do livro – uma fidelidade que por vezes soa excessiva, impedindo que seus instintos de grande cineasta aflorem. Por outro lado, se sai muito bem na construção desse universo que só podia ser um delírio da cabeça de alguém. Eric e as pessoas à sua volta interagem numa autoironia própria de um mundo cada vez mais entregue às grandes corporações – com destaque para as participações-relâmpago dos franceses Mathieu Amalric e Juliette Binoche.
Pattinson, protagonista absoluto de Cosmópolis, segura firme todas as cenas em closes de puro cinismo, bem distantes do romantismo meio canastrão da saga que lhe deu fama. O ex-vampiro pode dormir tranquilo – se a beleza garantiu a ele a entrada no cinema, depois de Cronenberg seu futuro parece bem promissor.

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