Robert Pattinson
Não me faça sentir como um animal de zoológico.
“Não acho que sirva para isso. Certamente não iria ser uma estrela, nem mesmo um ator. Há pessoas que querem o sucesso desde uma idade prematura, e fazem de tudo para ser famoso. Se podem, quando entram em uma sala captam toda a atenção. E esse momento de satisfação justifica todo o trabalho duro e os compromissos que fizeram para chegar lá. Mas eu não faria isso. Simplesmente me encontrei nessa situação. Se entro em uma sala e todo mundo olha pra mim, não me sinto confortável. Às vezes me sinto como um animal de zoológico e não é uma boa sensação.”
Talvez Robert Pattinson devesse ter pensado sobre isso antes de aceitar o papel de Edward em Crepúsculo, que o levou a ser rico e famoso, sem mencionar ser o ídolo de muitas garotas ao redor de todo o mundo. Mas não parece ser uma pessoa que finge ser humilde. Ele é tudo, menos uma estrela, espontâneo e sorridente como é, pela forma em que se apresenta exclusiva como GIOIA: a cabeça meio raspada, uma camisa que certamente teve tempos melhores e um par de calças que nem sequer pode ser chamado de desgastado. Alguém que quisesse mentir se vestiria melhor, eu penso isso quando o vejo.
Você se preocupa com roupas de grife agora que é famoso ou sempre foi dessa forma?
RP: Me sinto estúpido levando uma jaqueta e gravata, a não ser que seja necessário. Me visto de forma casual. Eu gosto da ideia de ser visto como realmente sou. Além disso, sempre olhei para as pessoas muito elegantes.
Bonito corte de cabelo.
RP: É para um filme, Cosmópolis. Já terminei, mas conservo o penteado. Eu gosto e acho interessante.
Crepúsculo terminou. Você está disposto a mudar a sua vida?
RP: Ainda não sei. Não só tenho sido um vampiro por anos, então não é como se minha carreira terminasse.
Você não se chateia por interpretar sempre o mesmo papel?
RP: Vamos dizer que não era sempre, porque faz parte da natureza de um vampiro não ser expressivo todo o tempo. Há muitas coisas que [Edward] não pode fazer: além de seu amor – quase obcessão – por Bella, não pode ter impulsos, urgências, sentimentos. Existe o risco de terminar fazendo as mesmas coisas, e muitas vezes, depois de uma cena, eu parava e tinha a sensação de ter repetido a cena anterior. Mas sempre tentamos privilegiar a originalidade.
Se você não fosse o personagem principal da saga, teria sido fã dela?
RP: Provavelmtne a resposta me coloca em apuros. A verdade é que eu não sei. Sempre estive contra as sagas comerciais. Acho que gosto dos filmes por si só, mas não posso entender porque as pessoas ficam tão loucas com eles. E, na verdade, sempre gostei mais dos filmes mais ‘pobres’.
No começo havia muito ceticismo sobre você. As fãs não gostavam de você. E agora…
RP: Elas não estão interessadas em quem são, o que faço ou como atuo. Se preocupam com meu rosto. Se meu rosto estivesse como imaginaram no livro, então tudo bem. Então, depois de fazer o primeiro filme, o rosto se converte no personagem e o problema está resolvido. Pensar em algo assim é triste.
Comparando Crepúsculo com Lembranças, tenho a sensação de que o segundo – garoto magro, barbudo, com cigarros e um copo na mão – era mais perto de você. Estou errado?
RP: Não. Quando li o roteiro, definitivamente me identifiquei com o personagem diretamente. Normalmente, os filmes com um personagem jovem são todos iguais: há um garoto que não sabe nada sobre a vida e aprende tudo ao longo do filme. Em Lembranças você pode sentir que há algo diferente. Eu comecei com a ideia de interpretar a mim mesmo porque achei seu ânimo e estilo de vida muito parecidos aos meus. Depois mudei de ideia: interpretar a mim mesmo é impossível.
Não para John Malkovich.
RP: Acho que sim. Podemos interpretar a pessoa que criamos e é percebida pelas pessoas, mas não podemos ser nós mesmos na tela.
O que você quer dizer com ‘percebida pelas pessoas’?
RP: No meu caso, Edward, o vampiro. As pessoas não falam sobre mim, não gritam por mim, não arrancam o cabelo por mim: fazem isso por Edward. Vivem para vê-lo, então tento escapar desse nome. Eu corro, entro em um carro e sou outra pessoa. Olham para você, mas veja só o que eles querem ver.
Você imaginava fazer esse sucesso?
RP: Não, foi uma loucura e algo inesperado. Me lembro um dia, em Munique, no Estádio Olímpico, estava na frente de 30.000 pessoas que haviam ido a uma Conferência de Imprensa de 10 minutos. Foi a coisa mais louca que eu já vivi. Se você começar a pensar que estavam ali por você e começa a se convencer que é famoso, com certeza você ficará louco.
Você não se sente fabuloso?
RP: Não.
Nem mesmo um pouco?
RP: Não. Se você começa a sentir isso toda manhã, então quando você se olha no espelho, deveria repetir que é a melhor pessoa do mundo. Pelo contrário, eu prefiro pensar que tenho a personalidade contrária necessária para suportar o peso da fama.
Então por que você decidiu fazer este trabalho?
RP: Quando eu comecei, ninguém podia ver os filmes. E os que voram nem sequer davam conta de mim, mas sim do meu trabalho e do papel que eu interpretava. Atuei sem pensar sequer na carreira ou no efeito que teria. Hoje em dia muita gente pensa que me conhece sem nem sequer me conhecer, Em suas cabeças sabem o que esperar de acordo com o que assumem sobre o que conhecem de mim.
Então, qual a sua estratégia de sobrevivência?
RP: O melhor que posso fazer é viver na mais absoluta reserva. O que é impossível considerando que tenho que ser entrevistado como pessoas como você para promover um filme. Mas, então, quando as revistas não podem encontrar nada bom, elas inventam.
Você não parece estar confortável com isso.
RP: Cada vez que estou na frente de um grupo de pessoas, deixo a mente em branco e penso: “Este sou eu”. Meu corpo está aqui, mas minha mente está em outro lugar. E sempre tento lembrar que é um trabalho, que não é a minha vida. Mesmo mantendo o controle, é difícil.
Falando de trabalhos, David Cronenberg veio a você para seu último filme.
RP: Exato, quando eu pensava que nunca ia trabalhar com grandes diretores. Às vezes acho que a fama não te ajuda a conseguir papéis em filmes de qualidade. Mas sim: Cronenberg veio a mim. Eu lhe disse que levaria uma semana para decidir e, na verdade, estava procurando uma maneira de dizer que não era a pessoa certa para isso, que não levaria o script e não aceitaria. A única maneira teria sido chamá-lo e dizer “Ei, sou um perdedor”. Então pensei que não queria ser isso e aí eu disse sim.
É verdade que você adotou um cão durante as filmagens?
RP: Sim, eu o encontrei perto do set e o peguei.
Um ato muito doce vindo de um vampiro.
RP: Exatamente. Talvez ele estivesse buscando um amigo e não pudesse falar.
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